Moradores e responsável pelo loteamento vivem impasse. Enquanto isso, melhorias não chegam ao local

Ao longo das últimas duas décadas, Macaé sofreu um forte crescimento populacional, vendo o número de habitantes praticamente dobrar nesse período. Isso resultou no surgimento de vários loteamentos e comunidades, muitos deles sem nenhum tipo de infraestrutura. Com isso, anos depois, o cenário encontrado em algumas localidades é crítico.

Essa semana, o Bairros em Debate, a pedido dos moradores, retornou ao loteamento Barra Sul, situado na área norte da cidade. Pela segunda vez no ano, a nossa equipe esteve na localidade. Dessa vez, ela foi recebida por um grupo de, aproximadamente, 15 pessoas, que relataram a situação crítica e insalubre que as famílias enfrentam ali.

“Estou indignada com a situação do nosso bairro. Queremos que o poder público chegue junto com a população e tome uma providência”, solicita a moradora Vieira Machado.
No primeiro momento, a nossa equipe já teve dificuldades de acessar o loteamento, isso porque a grande quantidade de lama ainda era grande, mesmo com o tempo ensolarado. Segundo os moradores, isso tem se agravado desde que o loteador, responsável pela infraestrutura do Barra Sul, iniciou as obras.

“Eles não se reúnem com os moradores, fogem da gente e nunca dão prazo de quando vão terminar tudo”, reclama a presidente da Associação de Moradores, Daniele Silva. “Existe uma briga entre o atual responsável com o antigo loteador, mas isso é problema deles. A gente não tem nada a ver com isso e estamos sendo os verdadeiros prejudicados”, enfatiza.

E se na última visita, em janeiro, elas andavam, mesmo que em ritmo lento, agora, ao invés de estarem próximas de serem concluídas, estão praticamente paradas. “A nossa situação aqui dentro está cada dia pior. O loteador, que é responsável por todos esses transtornos, não faz nada. A gente cansa de procurá-los e não resolvem o nosso problema. Essas obras que não terminam nunca, estão causando muitos problemas para a gente. A nossa pergunta aqui é: cadê a prefeitura que não fiscaliza? Como que o poder público deu autorização para construir os imóveis se o loteador não havia feito as exigências, que são água, esgoto, luz e pavimentação? Precisamos que o governo cobre dos responsáveis esclarecimentos e as providências”, diz Fabiana de Oliveira, que mora no bairro há oito anos.

O morador Marcos Alexandre diz que boa parte dos transtornos poderia ser evitado se a obra tivesse sido feita da maneira correta. “Contrataram uma empresa qualquer, que trabalha quando tem vontade e fizeram tudo errado. Eles abrem uma rua, largam do jeito que está, parte para outra, não finalizam e por aí vai”, lamenta. “Pode ver que as máquinas estão paradas no terreno e pode voltar a qualquer hora ou dia que vai estar tudo da mesma maneira”, completa.

Lama e poeira prejudicam a acessibilidade e causam problemas de saúde

Acessibilidade cada dia pior

Em dias de sol, a poeira invade as casas e os buracos tomam conta das ruas. Quando chove, a lama prejudica a acessibilidade da população. “Há alguns dias filmei um senhor andando com a lama no joelho. Achei aquilo um absurdo. E, infelizmente, esse é só um caso em tantos”, lamenta Fabiana.

Uma das pessoas que investiu boa parte do seu dinheiro no local é André Vieira Martins. “Não aguentamos mais esse descaso. Moro aqui há 10 anos e investi muito dinheiro. Não tenho como abandonar tudo. Quando comprei o terreno nos foi garantido pelo antigo loteador que teríamos toda a infraestrutura. As ruas estão intransitáveis. Como pode um bairro dentro de Macaé estar pior do que na roça? Eu tenho vergonha de convidar alguém para vir na minha casa. As pessoas nem querem aparecer aqui por conta do bairro estar do jeito que está”, relata.

A falta de acessibilidade tem prejudicado, inclusive os poucos serviços prestados. “O caminhão de lixo já avisou que vai ter que parar de passar aqui dentro porque não tem condição. Estamos sendo prejudicados”, diz Daniele. “Até mesmo a segurança privada que pagamos não está conseguindo trabalhar aqui direito”, ressalta.

Esse pequeno bairro fica situado às margens da Rodovia Amaral Peixoto (RJ-106), a poucos minutos do Centro de Convenções. A precariedade do lugar preocupa os moradores, que temem a desvalorização da área devido aos problemas que apresenta.

“Tem casas que estão há meses para serem vendidas, com o preço muito abaixo do que valem. As pessoas não conseguem alugar. Tem um prédio aqui na Rua 2 que teve que ser evacuado porque não tem condições de alguém morar ali pois o esgoto retorna para dentro”, explica Fabiana.

Área da prefeitura se tornou canteiro de obras e lixão

Área de lazer não saiu do papel

Apesar de contar com uma grande área que deveria ser destinada para a construção de uma praça, a situação que pode ser encontrada é tudo, menos um espaço para que crianças e jovens possam utilizar nos momentos de lazer.
Ao todo são 10.274,19 m², sendo que boa parte desse espaço é ocupado por uma lagoa. Os moradores dizem que sonham, um dia, ver um espaço urbanizado e bonito, com bancos, parquinho e quadras. “Hoje a praça se tornou um canteiro de obras e um lixão. Estamos realmente abandonados”, diz Daniele.

Terrenos foram cercados, impedindo a limpeza deles

Limpeza prejudicada

Um dos poucos serviços que até então era feito no bairro, a limpeza também tem sido prejudicada. A presidente do bairro conta que o loteador cercou todos os terrenos que não foram vendidos. Contudo, assim como ela, os moradores denunciam que os responsáveis não fazem a manutenção dessas áreas.

“Antes eu ligava para a secretaria de Serviços Públicos e eles vinham aqui e limpavam. Bem ou mal já mudava o aspecto do bairro. Agora com os terrenos cercados eles não podem fazer nada. Nem mesmo entrar com as máquinas devido as condições das ruas”, explica Daniele.

Sem limpeza, os terrenos estão se tornando um verdadeiro criadouro de zoonoses. “os terrenos acumulam sujeira e água. Com isso, tem dado de tudo aqui: mosquito, barata, ratos, ratazanas, sapos, cobras, caramujos africanos e até mesmo escorpiões. Toda hora um morador relata que encontrou um bicho desse dentro de casa. Essa semana mesmo eu tirei um rato de dentro de casa. Fica a preocupação porque muitos têm crianças, idosos, ficamos vulneráveis a doenças provocados por esses animais”, denuncia Fabiana.

Esgoto sem tratamento

Outro problema enfrentado ali é o saneamento. Sem rede, o esgoto acaba retornando, na maioria das vezes, para dentro de casa. “Muitas vezes estamos no banho e do nada sobe aquela água suja e fedida nos ralos porque o esgoto não tem para onde escoar. Fica um cheiro insuportável dentro de casa. Se chove é aí que a situação piora”, conta André.

Os moradores ainda fazem uma denúncia de possível crime ambiental. “Quando a gente vai na administração do loteamento, eles dizem que não sabem o que fazer, pra gente ligar a tubulação da casa na rede pluvial. Uma vez eu questionei que isso era crime e a funcionária falou para jogar lá mesmo”, denuncia Marcos.

O que diz a prefeitura

De acordo com a secretaria de Obras, os trabalhos de infraestrutura são de responsabilidade do loteador. A prefeitura fiscaliza e já emitiu uma série de notificações, embargos e multas ao loteador. A secretaria ainda informou que está realizando a atualização de todas as autuações já emitidas para tomar as medidas cabíveis.

O governo municipal também estuda a possibilidade de construção de uma área de lazer nessa localidade. Sobre serviços de limpeza, a secretaria de Infraestrutura informa que, até o final do mês, a região receberá as ações de manutenção que, nesta semana, foram realizadas no bairro Itaparica, seguindo para o Jardim Guanabara na próxima semana.
Lembrando que o trabalho de manutenção é contínuo no município. Solicitações e reclamações devem ser realizadas pelo telefone (22) 2796-1235, ou pela Ouvidoria do município, por meio do site da prefeitura, no link intitulado Ouvidoria Geral. O contato também pode ser feito por telefone, no número 162 (ligação local e gratuita) ou no (22) 2772-6333. O atendimento ainda pode acontecer pessoalmente, na sede da Ouvidoria, que funciona no Centro Administrativo Luiz Osório, Av. Presidente Sodré, 466, primeiro andar.

No dia da nossa visita, os moradores convidaram os responsáveis pelo loteamento para estar no local, no entanto, nenhum representante apareceu. O jornal O DEBATE esclarece que está disponível caso o loteador queira se pronunciar sobre as denúncias.