Como uma sucessão de erros, tragédias não representam apenas a ação da natureza ou de divindades que se revoltam contra a má intensão humana.

Com as responsabilidades públicas completamente desvirtuadas, o sistema que deveria proteger o cidadão mais carente, hoje é o principal algoz de quem vive cada vez mais distante do que de fato deveria ser um governo.

Tanto a tragédia de Brumadinho, em Minas Gerais, quanto a morte de duas crianças em um incêndio na Malvinas, abrigadas no CEMAIA de Macaé, representam o quanto o serviço público é substituído por decisões políticas que beiram a corrupção, e que destroem as chances daqueles que mais precisam de mudar de vida.

Com o aparelhamento da máquina administrativa, através de acordos e alianças que visam apenas manter projetos de poder, a relação entre o serviço público e a sociedade está baseada apenas na troca de favores eleitoreiros, de apadrinhamentos que não respeitam hierarquia ou condições técnicas que deveriam potencializar a força do governo em promover, de fato, melhorias para a condição de vida daqueles que mais precisam.

Se nem mesmo uma unidade cujo trabalho é conduzido através da parceria entre o Judiciário e o Executivo funciona, a ponto de deixar à mercê a vida de cinco crianças menores de 10 anos, que fugiram da unidade situada na Virgem Santa, o que esperar então de outros setores que dependem única e exclusivamente da vontade do prefeito?

Não é de hoje que pessoas padecem a espera de exames médicos, nas filas da farmácia popular, ou no agendamento de uma cirurgia. E mais ainda, não é raro encontrar crianças fora da escola desinteressadas pelo ensino, mas atraídas pelo crime e pelas drogas.
A cada erro considerado como fatalidade, o poder público mata, não apenas vida, mas a esperança daqueles que mais precisam de apoio e de acolhimento, seja uma criança vítima de violência e abuso, seja um idoso abandonado dentro de casa.

E quanto mais fatos como esses sejam ignorados, por necessidade de se manter alianças políticas, nada em Macaé será suficiente para transformar a cidade em uma referência nacional, não apenas em bilhões arrecadados, mas sim em qualidade de vida para a população.