As pessoas com deficiência intelectual são as que mais encontram dificuldades de inclusão no mercado de trabalho. De acordo com os dados da RAIS/CAGED 2106, o mercado de trabalho para pessoas com deficiências prioriza em 48,9% as pessoas com deficiência física, em 19,2% com deficiência auditiva, 12,8% com deficiência visual, 9,2% os reabilitados, 8,2% com deficiência intelectual e 1,7% com deficiências múltiplas. Esses dados revelam que a preocupação das empresas está muito mais ligada ao cumprimento da legislação que obriga a contratação de pessoas com deficiências (a Lei de Cotas 8213/91), do que ser de fato uma empresa inclusiva.

Ao buscar profissionais com deficiências as empresas acabam priorizando pessoas que não necessitam de apoio contínuo. Quando uma empresa começa contratando por causa da lei de cotas, ela vai fazer tudo pela lei, ou seja, se preocupa muito mais em atingir um número do que com o desenvolvimento e transformação social da pessoa contratada. Assim, corre o risco de deixar de ser uma empresa realmente preocupada com a inclusão.

O Emprego Apoiado é o antídoto contra a exclusão dos profissionais com deficiências intelectuais do mercado de trabalho. Essa metodologia é uma ferramenta essencial, que prioriza o perfil da pessoa em relação as funções das oportunidades. Com o apoio adequado, esse profissional terá chance de se desenvolver e produzir excelentes resultados dentro da sua realidade.

As limitações das pessoas com deficiência intelectual devem ser respeitadas e não ignoradas. Essa é a função do Emprego Apoiado, essencial para gerar oportunidades. Sem essa metodologia, a única chance de inclusão é a remota possibilidade de encontrarmos um gestor muito disposto, geralmente com casos de deficiência similares na família. Vale saber que diversas ONGS disponibilizam gratuitamente voluntários apoiadores para ajudarem as empresas a incluir pessoas com deficiências intelectuais.

Recentemente, com a validação da LBI 13.146/15 (Lei Brasileira de Inclusão), as pessoas com deficiências mentais também podem ser enquadradas na lei cotas. Sendo assim, as mesmas dicas são válidas para este tipo de deficiência também. A verificação deste enquadramento é mais cuidadosa, necessita de médico que entende os enquadramentos da Lei de Cotas a fundo, e de negociações com os órgãos fiscalizadores para que haja entendimento dos casos específicos desses enquadramentos.

A diferença entre pessoas com deficiências intelectuais e mentais, basicamente são, as intelectuais são as que acometem a cognição, as mentais são as que apresentam alterações na mente da pessoa e provocam alterações no modo como ela percebe a realidade. Escolher a deficiência para uma vaga de emprego é tão cruel quanto às barbaridades que essas pessoas são submetidas desde seus nascimentos, com relação a preconceito e escassez de oportunidades e etc.

O Emprego Apoiado é a oportunidade de atender a um público que estava excluído do mundo do trabalho. Segundo os dados divulgados pela Organização Mundial de Saúde (OMS) cerca de 5% da população mundial tem alguma deficiência intelectual. É muita gente! A inclusão desses deveria ser muito mais natural do que realmente é.

O apoio contínuo, transforma o método “treinar-e-colocar” para o “colocar-e-treinar”. Isso ajuda a dar voz e ouvidos a esses profissionais, o que vai tornar o ambiente de trabalho mais inclusivo, mais criativo, inovador e contribuindo para que suas equipes pensem de forma diferenciada. A inclusão contagia o jeito de criar, vender e atender aos seus mais variados perfis de clientes. Isso é inovação!

O Emprego Apoiado não é só uma metodologia de trabalho. É uma transformação na forma de oferecer acesso ao trabalho de pessoas em situação de incapacidade intelectual, portanto precisa de uma legislação específica. Já é hora de ocorrer mudanças na lei, contemplando os diferentes tipos de deficiências para garantir oportunidades a todos ao invés de incentivar a exclusão.

A inclusão pelo Emprego Apoiado é a maior demonstração de boa vontade corporativa e respeito às necessidades do próximo. Não é mais uma questão de cumprimento de lei de cotas. As empresas, seus produtos e serviços precisam “ser” inclusivos muito mais do que “ter” inclusão.

* Carolina Ignarra é sócia fundadora da Talento Incluir, uma consultoria que promove a relação entre profissionais com deficiência e o mercado de trabalho.