A data foi escolhida para homenagear o escritor Monteiro Lobato

 Era uma vez, um pedacinho de papel em branco. Cansado de ficar sozinho e sem cor, ele decidiu fazer uma grande celebração e convidar muitas pessoas. Foi aí que apareceram o lápis, o hidrocor e os pincéis, seus amigos de infância. Juntos, eles fizeram uma festa que entrou para a história. Na verdade, virou história.

Contos divertidos, letras engraçadas e ilustrações coloridas, esses são alguns dos elementos que dão vida a um livro infantil. No dia 18 de abril, é comemorado o Dia Nacional do Livro Infantil. A data foi escolhida em homenagem ao nascimento de Monteiro Lobato, um grande escritor da literatura infantil brasileira.

Você deve conhecer figuras como Dona Benta, Tia Anastácia, Narizinho, Pedrinho, Emília e o Saci, não é mesmo? Antes mesmo de surgirem na televisão, as aventuras vividas por esses personagens foram apresentadas através dos livros.

Histórias como as do Sítio do Picapau Amarelo, escrita por Monteiro Lobato, do Menino Maluquinho, de Ziraldo, ou O Meu pé de Laranja Lima, de José Mauro de Vasconcelos, marcaram a infância de muitas gerações. Essas narrativas estimulavam a imaginação e a fantasia, mas também foram muito importantes para o desenvolvimento pessoal e criativo de várias crianças.

É por isso que a leitura na infância é uma atividade tão importante. Através desse processo, as crianças podem vivenciar, mesmo que no imaginário, sensações como medo, vergonha, tristeza, amor, e depois, aprender a associar esses sentimentos às situações vividas no mundo real.

Além disso, a leitura é uma prática essencial que contribui para o desenvolvimento de habilidades cognitivas e intelectuais. Geralmente, as crianças que têm acesso a leitura são mais comunicativas, possuem linguagem oral mais evoluída, são mais criativas, curiosas, menos agressivas e mais empáticas.

E não é somente elas que se beneficiam desse processo, a família também. Quando a leitura é feita em conjunto (pais, avós, tios, irmãos), a conexão familiar é fortalecida. Por isso, o livro infantil deve ser considerado um grande amigo. Esse é um camarada que pode te acompanhar durante todas as fases da vida.

 

A infância na vida adulta

Não há quem discorde sobre o papel fundamental que a literatura infantil exerce na vida das crianças. Mas esses contos podem ser importantes para os adultos também. Existe um dito que se tornou muito popular após o lançamento do livro “O Pequeno Príncipe” de Antoine de Sain-Exupéry. A frase é a seguinte: “dentro de cada adulto, habita uma criança”.

A citação tem várias interpretações, a mais comum é a de que, para muitos, a infância foi um período de poucas preocupações e as recordações felizes eram parte da rotina. Só que ao crescer, tudo muda, os pequenos detalhes da vida começam a perder o valor. Mas aquela criança ingênua e descontraída, ainda existe. Por isso, é importante despertar essa criança que estava até então escondida.

Abel Sidney

Quem concorda com a ideia é o escritor Abel Sidney, que escreve livros infantis desde 2003. “Escrevo, em primeiro plano, para as crianças soterradas, esquecidas, apagadas no fundo de cada adulto. Ao recuperar crianças perdidas, nós temos a oportunidade de criar adultos agentes de leitura em família, em sala de aula”.

Ao 56 anos, o escritor e servidor público que mora em Rondônia já publicou contos, poemas e histórias infantis. Mas a sua relação com a literatura foi um pouco tardia. Dos 4 aos 8 anos, quando morava em Minas Gerais, o autor viveu em situação de rua, período no qual não dominava a leitura e a escrita. A alfabetização veio anos depois, quando uma tia o ensinou essa arte.

Assim que aprendeu, tomou gosto pelos livros. “Assustava-me o sorriso do gato da Alice. E mais ainda as mentiras e trapaças do Pinóquio”, disse. Na adolescência conheceu as obras de Jorge Amado e, quando começou a cursar Ciências Sociais na UFRJ, começou também a estudar a literatura infantil.

Atualmente, além dos livros “Conto ou não conto?” e “A casa de dona Dodó”, o autor criou a Temática Editora, com foco em um programa de leitura.

 

Literatura como ferramenta social

A literatura infantil também tem sido essencial para a discussão de temáticas sociais. É o caso do livro “Bela, a diferente abelhinha que virou rainha”. O livro, escrito pela autora baiana Palmira Heine, conta a história de uma abelhinha que tinha o corpo e cabelo diferente das demais, e estava sempre mudando suas características para poder se inserir.

Palmira Heine

Infelizmente, essa é uma narrativa comum e verídica. Palmira conta que a história de Bela, se baseou em um episódio da vida real. “A inspiração veio de minha filha, que tem uma colega que achava que o cabelo dela era feio”.

De acordo com a escritora, temas como esse têm sido demandados pelas crianças, pois elas estão inseridas em uma sociedade excludente. Desde a publicação do seu primeiro livro, quando tinha 18 anos, Palmira tem se dedicado a escrita infantil, enquanto também atua como professora universitária.  Na lista de títulos já publicados estão “Chapeuzinho no Pêlo”, “Mila, a pequena sementinha”, “O sonho de Ritinha” e tantos outros.

Além de contribuir para o debate social, a literatura também pode ser um instrumento didático. Segundo a autora, é possível utilizá-la em várias disciplinas, como por exemplo, na matemática. O livro “A amizade no mundo dos números”, por exemplo, conta a história do “0”, um personagem que se sentia triste porque diziam que ele não valia nada. “Você pega um conceito de matemática e traz de uma forma lúdica para adaptar ao universo infantil”, explica Heine.

O Mercado na Literatura Infantil

Não existe uma faculdade própria para isso, mas para os que se interessam pela área, cursos como Letras e Jornalismo podem ajudar a desenvolver essa habilidade.

Para quem deseja seguir a carreira de escritor e até trabalhar com literatura infantil, é preciso ter muita disposição. Quem inicia fazendo as publicações de forma independente, como foi o caso de Palmira, pode encontrar muitas adversidades. É que geralmente as editoras conhecidas preferem autores com mais visibilidade.

A escritora compartilhou que o seu primeiro livro tinha ilustrações em preto e branco, porque a tinta colorida tornava a impressão mais cara. Mas o talento e persistência vencem as adversidades. Hoje, os livros de Palmira são coloridos e dão vida à imaginação de crianças de várias partes do país, graças ao seu trabalho independente de produção e distribuição.

Essa é uma área que têm crescido e também dado bons rendimentos. O Sindicato Nacional dos Editores de Livros em parceria com a Associação Nacional de Livrarias divulga mensalmente um balanço feito por todas as lojas que realizam a venda de livros. No início do ano, houve um aumento no número de vendas dos livros infantis, quando comparado ao mesmo período do ano passado. A categoria infanto-juvenil teve um aumento de aproximadamente 15%.