Dois meses atrás, comunidades de Macaé precisaram ser ocupadas pela Polícia Militar e Polícia Federal, após confronto entre traficantes que durou três dias - Arquivo

A Polícia Civil de Macaé investiga o esquema, a estrutura de como o tráfico de drogas funciona e a relação das mortes registradas na cidade para conquistar a confiança dos chefes do tráfico

A ‘guerra’ nos bairros e comunidades dominadas pelo tráfico de drogas, em Macaé, tem sido corriqueiro há mais de três anos e do ano passado para cá, o determinante é enfraquecer uma das duas facções criminosas que comandam o território de vendas de drogas, Amigo Dos Amigos (A.D.A.) e Comando Vermelho (C.V.). Além das disputas e desentendimentos que enfraquecem uma das duas facções, o prejuízo financeiro causado pela perda do controle de um determinado ponto de venda de drogas, proporciona os maiores lucros ao grupo.

Para a autoridade de segurança pública da cidade quando um traficante migra para outra facção criminosa, automaticamente vai impulsionar o índice de homicídio no determinado mês em que o criminoso deixou a facção.

Na semana passada, o jornal O DEBATE publicou uma matéria sobre os índices de assassinatos em Macaé que chega a 53% no primeiro semestre deste ano em comparação ao mesmo período do ano passado. Para a Polícia Civil, as mortes estão relacionadas ao tráfico de drogas com objetivo de enfraquecer e exterminar a facção rival.

De acordo com o delegado de Macaé, Evaristo Magalhães, constantemente traficantes estão migrando de uma facção para outra e quando isso acontece, ou até mesmo antes do criminoso ser inserido na facção, o chefe do tráfico exige que o novo ‘recruta’ conquiste a confiança e o preço dessa fidelidade é matar um determinado número de integrantes da antiga facção criminosa, a qual ele fazia parte.

“Geralmente quando o novo recruta é oficializado na antiga facção rival, o chefe do tráfico exige que ele mate pelo menos de 5 a 6 traficantes que eram comparsas no passado. Essa é a confiabilidade exigida do tráfico, caso contrário, o recruta é morto”, explica Evaristo, que a Polícia Civil está atuante na investigação e já identificou os principais criminosos causadores dessa ‘guerra’ na cidade e acrescenta ainda que em breve novas operações serão iniciadas.

Ele conta ainda que a troca de facção vai além e que tem muitos casos que o novo ‘recruta’ não se adaptou naquela determinada facção criminosa e pede para voltar. Segundo o delegado Evaristo, nesse caso, o criminoso é aceito na antiga facção e o preço passa a ser mais alto, pois o traficante precisa apresentar a confiabilidade para o chefe do tráfico e ser avaliado se será recrutado ou não. Para voltar a ser integrado na equipe, ele terá que matar cerca de 10 traficantes da facção que ele integrava e apresentar todo o esquema funcional do tráfico.

“Cada vez que um determinado traficante ficar de ‘idas e vindas’, o preço é dobrado para ser aceito em uma facção”, enfatiza Evaristo, que afirma ainda que, a ideia dos criminosos do C.V. é dominar toda a área do ponto de vendas do A.D.A., já que os bandidos do (A.D.A.) de Macaé se rebelaram contra os chefes do tráfico do Rio de Janeiro.

Ainda de acordo com Magalhães, essa ‘guerra’ se deve também a membros de criminosos que compõem o A.D.A. em Macaé e deveria ter migrado para a facção Terceiro Comando Puro (TCP), já que no Rio traficantes de alto escalão teriam integrado para a nova equipe e o tráfico de Macaé não aceitou a determinação.

Ele explica ainda que nos últimos meses, precisamente no mês de março e abril, traficantes do TCP do Rio de Janeiro teriam vindo as comunidades dominadas pelo A.D.A. para tomar o território, foi quando houve vários ataques e resultou na morte de dois homens e quatro pessoas feridas.

 

Amigo mata comparsa

Na última terça-feira (28), um homem identificado como Jean Martins Gomes, de 32 anos, morreu na comunidade do Morobá, próximo ao Parque da Cidade, em Macaé. Ele é apontado pela Polícia Militar como chefe do tráfico de drogas do Morobá e havia sido preso quatro vezes e possuía diversas anotações criminais, entre elas, tráfico e homicídio. O principal suspeito de ter matado Jean seria o próprio amigo que integrava na mesma facção e teria deixado o C.V. na semana passada e migrado para o A.D.A. A Polícia Civil já identificou o autor do crime, mas as informações não puderam ser passadas para não atrapalhar a investigação.

Jean Martins Gomes, de 32 anos, foi morto a tiros na comunidade e o autor seria o antigo comparsa de facção – Arquivo pessoal

Traição e invasão de comunidades

Criminosos de diversas comunidades da capital foram arregimentados por Evandro Guimarães, o Bigu, para participar da invasão. Um deles é Ivan Teixeira Figueira, o Tom da Mineira, identificado como um dos cinco mortos na primeira tentativa do bando de tomar a comunidade das Malvinas, em 18 de março deste ano. Antes de ir a Macaé, Tom foi expulso do Morro do Dezoito, em Quintino, Zona Norte do Rio, onde chefiava a venda de drogas. No início de março, a maior facção do estado invadiu a Malvinas, que era dominada conjuntamente por um consórcio de traficantes e milicianos, costurado entre criminosos da Praça Seca, na Zona Oeste, e do São Carlos.

A invasão foi precedida de uma traição. No dia 18, também foi morto Cristian Miller Nunes Dias, de 24 anos. O corpo foi encontrado junto aos dos demais invasores quando PM’s chegaram ao local. Miller é oriundo das Malvinas, mas fugiu da Malvinas e foi para o São Carlos no ano passado. A 123ª DP (Macaé) já sabe que os invasores seguem na cidade, planejando uma nova investida.

Evandro Guimarães, o Bigu, é condenado a mais de 45 anos de prisão por crimes como roubo, porte ilegal de arma e tráfico de drogas. De acordo com uma das denúncias do Ministério Público contra Bigu, ela era o responsável pelo fornecimento de drogas para as comunidades de Macaé. Segundo a investigação, trabalhavam para Bigu “portadores ou mulas que faziam o transporte da droga do Rio de Janeiro para a Macaé”.

Enfraquece facção

No ano de 2017, o enfraquecimento da A.D.A. fez com que o C.V. partisse para o ataque, onde criminosos saíram das favelas, no Rio Comprido, e invadiram o Complexo de São Carlos, antiga fortaleza da A.D.A. no Estácio. Após tiroteio, traficantes deixaram a região.

A investida não foi a primeira. Traficantes entraram no bairro Caju, outra área que era dominada pela A.D.A., mas passou para o TCP. Em setembro de 2017, criminosos do C.V. já haviam tomado o Juramento, em Vicente de Carvalho e na comunidade vizinha ao Juramento, traficantes que eram da A.D.A. temendo invasão e sabendo da fragilidade da antiga facção, mudaram de lado.

Autoridades de segurança pública de Macaé, trabalham incansavelmente para estancar criminalidades nas comunidades dominadas pelo tráfico – Arquivo