Nós fomos feitos a partir de quais relações? Quais afetos circularam nestas relações? Quais crenças, quais valores, quais princípios nos forjaram desde pequenos? Quais visões de mundo foram implantadas em nossas mentes e corações?

Mas, para quê precisamos conhecer as ‘forjas’ que produziram as nossas formas de ser? Através deste conhecimento poderemos ter a compreensão de determinados comportamentos, de determinados sentimentos que os acompanham e que, ainda, se manifestam nos dias de hoje.

Uma das partes do meu trabalho como Musicoterapeuta, Gestalt-Terapeuta, apoiado numa visão filosófica de homem e de mundo, a partir das filosofias da imanência, ou seja, de uma filosofia voltada à construção de uma prática de vida, posso verificar que muitos dos sintomas que se manifestam na vida dos pacientes são advindos das formas de ser que foram construídas ao longo do tempo.

Aqueles que são ansiosos, em muitas ocasiões de suas vidas, falam a respeito de como os inúmeros campos de experiências vividos foram fundamentais para a construção desta forma de ser. Outros, mais deprimidos, expressam sobre os inúmeros campos de experiências vividos desde pequeninos, onde os espaços de relação não eram vitais.

Outros, ainda, com uma vida desvitalizada, afirmando que aprenderam que a vida era como um ‘trilho de trem’, sendo, somente, necessário seguir o caminho ‘certo’, com os projetos de vida feitos pelos outros. Assim, aprenderam que era seguir o projeto de vida feito pelos pais, ou por pessoas que possuíam autoridade sob elas. Nascer, estudar, trabalhar num trabalho seguro, casar, ter filhos, aposentar e depois morrer. No entanto, as pessoas que foram forjadas com esta visão de mundo descobriram que a vida não é uma linha reta. A vida é feita por tantas situações inesperadas. Mas, elas não foram feitas para compreender que o mundo é feito por frustrações, por situações não-previstas, por incertezas.

Outros, que possuem um apetite desenfreado em acumular riquezas, expressam uma vida difícil, vindo de uma origem mais humilde. Relatando, ainda, o medo de perder tudo o que conquistaram, vivendo a apreensão permanente em viver a situação de infância. Estas emoções estão presentes no fundo de suas vidas, mesmo que não tenham consciência disso o tempo todo na ‘mente’.

Estes são alguns exemplos que nos explicitam e nos dizem sobre como fomos feitos; através de quais relações; com quais ‘matérias-primas afetivas’; se os campos de experiências foram vitalizados ou desvitalizados; com quais finalidades e objetivos estas aprendizagens emocionais foram oferecidas, ou seja, uma determinada forma de educação estava servindo ‘para quê’ naquele momento?Tudo isto atendendo quais expectativas das pessoas que implantaram as ideias, crenças, sentimentos em cada um de nós? Talvez estas pessoas reproduziam formas emocionais já vividas em campos de experiências de suas vidas.

Nossas formas de ser foram forjadas, construídas, compostas através das relações que nós estabelecemos durante uma vida inteira. Nada vem do nada! Uma emoção não é somente nossa! Nós precisamos ser tocados por alguma situação para que uma emoção surja do fundo que compõe a nossa vida subjetiva. Emoção, palavra advinda do latim ‘exmovere’, ou seja, movimento para fora! Daí uma emoção seria a expressão das ‘palavras afetivas’, dos ‘signos afetivos’ do corpo que nos ‘falam’ através de outras formas de se dizer, para além das palavras.

Ao longo da vida nós vamos construindo, na relação com diversos campos de experiências, arquiteturas emocionais, algoritmos afetivos. O medo não surge do nada! É preciso que algo nos toque para que ele advenha. Mas, ele não aparece sozinho! A ansiedade, a paralisia ou o desejo de fuga e, mesmo a raiva, poderão fazer parte desta arquitetura afetiva. Nos casos, onde a pessoa viveu campos de experiências movida por dúvidas, pelas incertezas, pelo desrespeito, pelas agressividades, que faziam parte deste contexto, poderemos ter, como efeito, uma arquitetura afetiva que, também, faz parte da vida de pessoas que não sabem decidir, não sabem dar direções em suas vidas. O medo, a ansiedade, a insegurança são parte dos momentos das escolhas, das decisões, da construção de caminhos de vida.

No meu trabalho como terapeuta desenvolvemos os ‘mapeamentos afetivos em musicoterapia-gestal-terapia-filosofia’, onde podemos descobrir juntos, de forma criativa e sensível, como muitas arquiteturas afetivas e emocionais foram forjadas, construídas em nossas vidas. Muitas destas arquiteturas emocionais aparecem sob forma de emoções que nos invadem, que nos dominam e não sabemos as suas causas. Vale dizer, os comportamentos impulsivos são efeitos das emoções que funcionam como motores destes mesmos comportamentos. Conhecer os afetos, ou seja, as nossas formas de tocar as situações e de ser tocado por elas faz parte deste aprendizado da vida emocional.

Uma educação emocional, uma ‘alfabetização emocional’ que pode ser proporcionada para aqueles que estão sofrendo em demasia em suas vidas, precisando, muitas vezes, de outros acompanhamentos clínicos.Prática que pode ser oferecida, também, para aqueles que desejam ampliar as suas formas de viver, ao serem ‘apresentados’ à uma ‘população’ que está lá, presente em cada gesto, em cada palavra, em cada sorriso, em cada abraço, em cada decisão: o fundo emocional que se expressa em cada instante pelo ‘corpo’.

Boa semana,
Um abraço,
Paulo-de-Tarso