Apesar de ter recebido obras de urbanização, Lagomar acumula problemas

Cerca de 40 mil pessoas sofrem para ter acesso à saúde, ao lazer e ao saneamento básico

 

Com mais de 40 mil habitantes, o Lagomar hoje pode ser considerado um dos maiores bairros em Macaé e também um dos mais populosos. Apesar de ter recebido obras de infraestrutura há menos de uma década, a localidade também acumula vários problemas.
Essa semana a equipe de Bairros em Debate, a convite da nova diretoria da Associação de Moradores, retornou ao local, um pouco mais de um ano após a nossa última visita, em 2017.

Conversando com o presidente, Sr. Marinho, problemas antigos, como deficiência no setor da saúde, saneamento básico e lazer, voltaram a ser reportados. Alem disso, nesse pouco tempo desde a nossa última reportagem, novas reclamações e reivindicações foram surgindo.

À espera de maior atenção do poder público, e na esperança de solução para as demandas do bairro, o presidente lamenta o estado de abandono do Lagomar, local onde vive há quase três décadas.

“Moro aqui há 28 anos e posso dizer que estamos completamente abandonados em tudo”, lamenta o líder comunitário.

O Lagomar está localizado na parte extrema da área norte da cidade. Ele fica situado às margens da Rodovia Amaral Peixoto (RJ-106) e próximo ao PARNA Jurubatiba ocupando um território de mais de 3.290.000m².

Assim como a maioria dos bairros e comunidades da cidade, ele cresceu sem infraestrutura. Tanto que a urbanização chegou mais de 10 anos após a localidade ser transformada pela prefeitura, por meio do Decreto Municipal 180/2005, em Zona Especial de Interesse Social.
Mas, se por um lado as obras traziam um pouco de esperança para quem já enfrentou lama e esgoto a céu aberto, por outro, três anos após a “conclusão”, apesar de ter melhorado, ainda é possível presenciar problemas.

 

Terreno alvo de invasão

Local onde deveria existir praça vem sendo alvo de invasões

Uma enorme área situada na Avenida Dr. Sérgio Vieira de Mello (antiga W-5), esquina com a Avenida Hebe Camargo (antiga W-26) foi doada há cerca de duas décadas para a prefeitura para que fosse transformada em prol da comunidade. No entanto, hoje o local é o retrato do abandono de vários governos.

A única coisa feita até hoje no terreno de 10 mil metros quadrados foi a construção de uma creche e a de uma unidade de saúde, essa última que segue com as obras paradas e sem previsão de conclusão.

Paralelo a isso, ao invés de uma praça com crianças e jovens brincando, invasões vão, aos poucos, ganhando força.

“Uma senhora doou a área para que fosse feita uma praça, escola, posto de saúde. Além disso, a gente luta para conseguir um espaço para a construção da sede da associação de moradores. Só que a prefeitura não toma providência e não tem interesse em transformar isso em um espaço para a população. Seria o sonho da maioria ter uma praça aqui com parquinho, quadras para as crianças e jovens brincarem. Mas a realidade é outra, infelizmente. O abandono é tanto que estão invadindo. Além da ocupação, o local está sendo transformado em pontos de descarte irregular e ponto de extração ilegal de areia”, conta o presidente. Marinho diz que pretende entrar com nova solicitação para a liberação da construção da sede. “A gente só quer essa autorização. Nós vamos ser responsáveis pela compra do material e mão de obra para a construção da nossa sede”, completa.

 

Obra de unidade paralisada

Obra de unidade de saúde, que já devia ser inaugurada, segue parada

Um dos problemas denunciados na última reportagem foi a construção da unidade de saúde. As obras começaram há cerca de quatro anos e até hoje não foram concluídas.
No início do ano, a antiga diretoria da associação informou que havia se reunido com o prefeito, Dr. Aluízio, ainda em 2017, que teria dito que a inauguração aconteceria em fevereiro desse ano, o que não ocorreu de fato.

Quando questionada pela nossa equipe, a prefeitura relatou que tinha encaminhado uma advertência à empreiteira por conta da paralisação das obras no final de 2017. O processo por não cumprimento do contrato tinha sido encaminhado à Procuradoria Geral para que tomasse as providências cabíveis.

Oito meses depois, a situação segue sem solução. “As obras estão paradas. Vai acabar sendo invadido o imóvel por conta do abandono˜, diz o presidente.

 

Parte do bairro não é contemplada

Moradores da W24 a W30 não são atendidos em ESF do bairro

Ainda referente às reclamações de Saúde, uma delas é sobre o atendimento da Estratégia da Saúde da Família. Desde 2016 o jornal O DEBATE vem denunciando que parte da população não é assistida pelo programa.

Quem mora da W24 até a W30 não tem atendimento nenhum. O bairro todo conta com quatro equipes, que não atuam nessa parte do Lagomar.
“Quem mora nessa região está desamparado. O posto da W18 não atende quem mora nessa área. Outro dia uma senhora foi caminhando até lá com três crianças para serem vacinadas e não puderam ser atendidos por conta disso. É um absurdo negar atendimento”, reclama.

Segundo Marinho, a atual unidade atende a cerca de 4 mil moradores. “Lá só tem um médico para atender essa demanda toda. Não tem como um único profissional dar conta de tudo sozinho. Temos que ter mais médicos. A estrutura atual não suporta a demanda. Não podemos contar com a UPA porque lá também é de dia. Há momentos que tem médicos e tem dias que faltam”, denuncia.

O presidente diz que está fazendo um levantamento dos moradores que vivem na área sem cobertura e criando um abaixo-assinado. “Estamos coletando as assinaturas dos moradores e vamos entregar na prefeitura e também no Ministério Público”, explica.

 

Urbanização da orla

Barro colocado na Avenida Atlântica piorou o acesso dos moradores

O nome é o mesmo, mas a realidade é completamente diferente. Assim é a Avenida Atlântica. Enquanto no Cavaleiros e Pecado a beleza encanta moradores e turistas, no Lagomar a falta de infraestrutura mostra o grande contraste social na Capital do Petróleo.
Em 2015, a prefeitura disse que a urbanização da orla estava prevista para ser realizada futuramente. O tempo passou e as pessoas continuam enfrentando a sujeira, falta de iluminação e lama.

Para piorar ainda mais a situação de quem vive ali, há cerca de dois meses colocaram barro vermelho no local, o que piorou ainda mais a acessibilidade das pessoas.

“Está ruim assim porque não choveu ainda, mas quando isso acontecer vai ficar intransitável. As mães passam todos os dias com os filhos aqui na lama para levá-los à escola. O cidadão está sendo privado de ir e vir”, reclama o presidente.

Apesar de a prefeitura negar que tenha sido responsável pelo serviço, Marinho garante que foi ela que executou o trabalho. “A gente reclama e eles falam que não foram eles, mas acredito que tenha sido. Além disso fizeram esses quebra-molas irregulares muito altos, que estão impedindo que carros baixos passem pela via”, relata.

O sonho da maioria ali é a urbanização. “Já fizeram o nivelamento. Dizem que estão previstas para o ano que vem as obras aqui. Falam que vão urbanizar e fazer o quebra-mar. Esperamos que isso de fato aconteça”, pontua Marinho.

O que diz a prefeitura

Sobre o terreno invadido, de acordo com informações da secretaria de Obras, o local citado vai receber uma nova unidade de ensino municipal. O projeto já está licitado e as obras começam ainda este ano.

Quanto as obras paradas da unidade de saúde, a prefeitura explica que questões burocráticas estão sendo ajustadas.

A secretaria de Saúde declarou que o bairro Lagomar conta com três equipes da Estratégia Saúde da Família (ESF). Cada equipe conta com um médico, um enfermeiro, dois técnicos e dois agentes comunitários. São atendidas 4 mil pessoas por equipe, totalizando 12 mil pessoas apenas no Lagomar. Os moradores da W22 recebem cobertura na unidade BC, que fica localizada na Rua W18. A prefeitura está realizando obra de expansão para aumentar a equipe e atender os moradores da W30. A previsão é que até o final do ano a obra esteja concluída.