Moradores convivem há cerca de duas décadas com os alagamentos, falta de saneamento e transporte ineficiente

Em meio a tantos problemas, os moradores do Jardim Carioca II procuram por uma solução. A lista de reclamações é tanta que eles já não sabem mais a quem recorrer. São anos esperando por melhorias que nunca chegaram. Entra ano, muda governo, e até agora a única certeza de quem mora ali é que a comunidade vive em completo estado de abandono.

Essa semana, o Bairros em Debate esteve visitando o local novamente, onde percorreu as ruas e conversou com a população mais uma vez. Transporte público insuficiente, falta de limpeza e alagamentos são apenas alguns dos problemas relatados pelos moradores, ressaltando que estão cansados de promessas e cobram do poder público solução para os problemas que fazem parte do cotidiano do bairro.

“Nós não estamos aqui procurando briga com o poder público, mas apenas lutando pelos nossos direitos de ter uma vida digna. Moro aqui há 15 anos e até hoje não vi as melhorias chegarem no meu bairro”, relata Lorival, popularmente conhecido como Bahia, presidente da Associação de Moradores.

O Jardim Carioca II fica localizado às margens do Canal Macaé-Campos, a poucos minutos do Centro de Convenções e do Aeroporto de Macaé. A comunidade foi criada há mais de duas décadas e atualmente estima-se que vivam cerca de 800 famílias ali.

Em dias de chuva, a lama impede a entrada e saída dos moradores

Falta de pavimentação e alagamentos

Se o acesso às ruas internas do bairro é ruim em dias de sol, quando chove, entrar e sair do bairro é praticamente uma missão impossível. Os moradores contam que basta chover poucos minutos para a situação ficar caótica.

“Quando chove o bairro todo sofre, mas são nas ruas internas que a situação é ainda mais crítica. As crianças não conseguem sair para a escola, os trabalhadores enfrentam lama. Precisamos urgente de uma obra de urbanização, com drenagem”, relata Bahia.
Como as ruas não têm asfalto, diversos buracos vão se formando nas pistas de barro. Os moradores dizem que, de vez em quando, fazem o serviço de manutenção, tapando os desníveis por conta própria.

Na Rua M, um morador relata que ele mesmo resolveu tomar a iniciativa para amenizar os transtornos para sair de casa. “Joguei uns entulhos no buraco porque toda vez que chovia formava uma poça de lama que não dava para passar. O mínimo que poderiam fazer é passar a máquina para nivelar a rua, já que não tem asfalto”, diz ele, que não quis se identificar.

Esgoto a céu aberto coloca em risco a saúde da população

Esgoto a céu aberto

Com uma rede precária, construída pelo loteador há muitos anos, moradores sofrem com a falta de saneamento. Quando o esgoto não vai parar, sem tratamento, no Canal Macaé-Campos, ele acaba transbordando nas ruas e dando retorno nas casas.

Segundo Bahia, os pontos mais críticos são nas ruas L, M e N. Nelas, a nossa equipe de reportagem encontrou valas no meio da rua. Quem mora perto reclama do mau cheiro e da exposição que compromete a saúde da população.

“Eles mandam caminhão suga-fossa, mas o que a gente precisa de fato é a substituição das manilhas. Aqui na Rua M tem uma senhora acamada que está com o esgoto na porta da sua casa. As pessoas estão vivendo em condições insalubres”, destaca.

Crianças e jovens brincam na rua

Crianças e jovens ficam pelas ruas

Quando se trata de lazer no Jardim Carioca II, o direito parece ter ficado apenas na Constituição Brasileira de 1988. De acordo com o § 3º do Art. 217, cabe ao Poder Público incentivar o lazer, como forma de promoção social. Mesmo com a expansão do bairro nos últimos anos, a população não conta com uma praça ou um simples campo de futebol para as crianças e jovens.

De acordo com os moradores, a única opção das crianças e adolescentes é a rua. A nossa equipe encontrou algumas brincando entre os carros, podendo ser atropeladas. “Aqui não tem nenhuma praça ou campinho. A gente precisa ir para o São José do Barreto, que é o local mais próximo. E mesmo assim a gente precisa respeitar a vez de quem mora lá. Eu tenho um projeto, mas não consigo colocar em prática porque não temos um espaço aqui no bairro”, diz o presidente.

Tendo em vista que a quantidade de crianças e jovens é grande no local, Bahia, junto ao presidente da Associação de Moradores no Jardim Franco se uniu para construir um campinho no bairro vizinho. “É a alternativa mais viável que conseguimos para atender a carência nas duas localidades. Ele está em fase de construção”, conta.

Aumento de assaltos deixa moradores apreensivos nos pontos da via principal

Transporte ainda é alvo de reclamações

A maioria dos moradores utiliza o transporte público. Apesar de sempre ser incentivado o uso do ônibus, até mesmo como forma de melhorar a mobilidade e reduzir a emissão de gases poluentes, em Macaé isso acaba sendo cansativo.

Como a linha que atende o bairro é precária, muitos acabam procurando outras alternativas. “O ônibus não passa aqui dentro, só na principal. A gente evita ficar ali no ponto por causa dos assaltos. A maioria passa pela linha do trem e pega na Ajuda de Baixo”, diz Bahia, ressaltando que outra alternativa é andar até o Terminal Cehab, que fica a cerca de um quilômetro do loteamento.

No final de 2015, a prefeitura disse que o aumento na frota da linha A63 (Terminal Cehab x Vila Badejo – via Nupem/UFRJ) dependeria do crescimento da demanda do local. No entanto, alternativas seriam estudadas para melhoria constante no atendimento ao bairro.

Mosquitos geram reclamações

A proliferação de mosquitos no bairro é algo que não tem solução. Apesar de ter épocas que eles dão uma “trégua”, quando chega o período mais quente e úmido eles atormentam os moradores, que acabam apelando para o uso de inseticida e repelentes.

A espécie que tem se proliferado em Macaé é a Culex (Culex quinquefasciatus). Seu criadouro preferencial é composto de depósitos artificiais, principalmente locais onde existe água com matéria orgânica em decomposição e detritos, apresentando aspecto sujo e mau cheiro, sempre próximo às habitações humanas.

Além disso, os moradores reclamam de aumento de ratos e baratas. “A equipe do CCZ esteve aqui há alguns meses, mas o problema continua. Aqui não é nem mais rato, a gente fala que são capivaras de tão grandes que são os roedores que aparecem em casa”, relata o presidente.

O que diz a prefeitura

Procurada, a prefeitura informou que a demanda de melhorias nas ruas foi encaminhada para a secretaria de Infraestrutura para que possam adotar as providências necessárias.
Quanto ao transporte, a secretaria de Mobilidade Urbana disse que uma análise foi feita na linha que atende o bairro e foi detectado baixa demanda atual de usuários que utilizam o transporte público. Ainda assim, ela realiza estudo técnico, que está em fase de conclusão, visando melhor atender a comunidade.

Sobre o esgoto, a secretaria de Saneamento declarou que equipe técnica irá ao local mencionado para verificar a situação e, assim, realizar as ações necessárias.

Por fim, o Centro de Controle de Zoonoses disse que está com uma ação planejada para atender o bairro na próxima semana. Para solicitações de visitas ou esclarecimento de dúvidas, o cidadão pode entrar em contato com o CCZ, pelo telefone 0800-0226461 ou pelo email cczmacae@yahoo.com.br