Contatologia e a ciência dos contatos

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O tema do contato é algo que me instiga há muito tempo. Este é um conceito que se liga às várias teorias, como a psicanálise, com Ferenczi, Balint, Alexander, Spitz, Margaret Mahler, Szondi, Rado, Rapaport et Melaine Klein. Eles desejavam pensar o contato numa dimensão pré-individual, pré-objetal, ou seja, pensando os modos de contatar numa fase inicial da vida onde as pulsões de vida não se conectassem a algum tipo de objeto.

A Gestalt-Terapia, por sua vez, tomará o conceito de contato como um conceito maior! Iremos tratar o tema do contato começando com a sua definição: o termo contato derivado do verbo latino contingere que vem expressar quase todos os fenômenos e características motoras da pulsão de contato.

Contingere, sendo formada por tangere que significa: tocar, palpável, tocável, tangível. Contingere… tocar com… Curiosamente a palavra tango tem, numa das suas origens, a palavra tangere. Tango também vinda da língua africana, significando “lugar de encontro” onde os africanos bailavam, nos produz a aura onde os corpos se tocam, se apalpam, ganham a experiência tangível germinada pelas intensidades do contatar.

Contatar será, de um lado, tocar, roçar, tatear, atingir, pegar, alcançar, agarrar…, conforme Szondi, e tantas outras experiências dinâmicas ligadas ao encontro entre-corpos. Bela imagem conceitual a do Tango para nos inspirarmos na sensualidade do contatar.

Mas, também tangere poderá ser tocar com os olhos, tocar a alma, tocar o intocável mundo onde habitam as partes mais escondidas de nós. Numa perspectiva sociológica dos sentidos e dos contatos, o filósofo fenomenólogo Erwin Strauss em seu livro Le Sens du Sens [2000, p. 440] nos dirá que o tato é “o sentido refinado da correção, de conduta, da conveniência, de decência no comportamento”. Ele nos lembra que  o termo “tato” vem do verbo infinitivo “tocar” derivado do latim “tangere”. Strauss dirá que aquilo que é manifesto e expresso pelo exercício de termos tato com os outros é a busca de uma forma socialmente aceita nos modos como fazemos contatos. Daí buscarmos ter tato em determinadas situações. Quando perdemos o tato com os outros o contato pode ser perigoso e colocar em risco a relação.

Vemos que a experiência do contatar é, também, ter tato com as situações. Será acariciar a superfície de contato que se forma entre nós e o ambiente: uma superfície afetiva nasce em nós! Aquilo que é tão do outro, é tão meu… é tão nosso… e isso que é tão nosso são as superfícies que produzem o acorde, produzem a liga, o vínculo, a comunhão de nossos mundos. Carícias táteis onde os olhos tocam, onde somos acariciados por perfumes, onde somos penetrados pelas carícias dos sons que invadem nossa alma, contato onde somos acariciados por um olhar-superfície-de-contato movediço que move nossas emoções…  Quais formas ganhamos deste entrelaçamento daquilo que é intangível, mas, visível e que nos toca fazendo-nos superfície de inscrição de sua força tátil afetiva? Quais formas damos aos outros quando tateamos suas superfícies contatuais? Somos “tatuados” por tantas formas táteis intangíveis que se expressam em olhares, em sons, em perfumes, em imagens produzidas por poesias que não se pegam com uma mão, mas, que se sente quando elas acariciam o coração.

Somos tatuados pelas carícias dos “corpos sensíveis”, dos “corpos afetantes-afetivos” tangíveis e intangíveis que se inscrevem numa escritura intensiva, estética e sensível as superfícies contatuais nascidas em nós. Superfícies que não nascem entre nós… mas, sim, neste espaço sem espaço do contato, espaço de comunhão, em nós superfícies contatuais nascem como os gestos intangíveis que nos tateiam através do teu e do meu olhar…

Entre em contato com as formas que você faz contato consigo, com os outros, com o mundo.